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Uma visão geral da performance: Sentar e Sentir: Microuniverso de Afetos

Quais motivações levaram o performer a desenvolver esta performance? Como se dá a relação com estanhos? Que efeitos a performance causa naqueles que participam da ação? Você é psicólogo? Não tenho como não deixar, a partir deste momento, a escrita num tom mais pessoal, já que, falarei de motivações que tocam em aspectos da minha própria subjetividade, neste sentido, peço licença para uma abordagem mais emotiva, não deixando de lado a racionalização necessária.

Comecei a desenvolver este trabalho em 2015. Após várias reflexões, percebi que se tratava de uma ação que dizia muito sobre mim, sobre minhas necessidade, minhas angustias e ausências. Na infância, vivia isolado, percebi em mim, um profundo sentimento de solidão e a performance veio, de certo modo – já que tem o caráter de inter-relação, para sanar essa e outras lacunas que ainda não foram inteiramente investigadas.

Por outro lado, uma coisa que sempre chamou minha atenção foi o fato de perceber, nas interações verbais, sejam individuais ou coletivas, que as pessoas que fazem parte desta interação, usam modos egoísticos de se comunicar; sempre na tentativa de manter e deixar fixo para si, o papel de locutor e emissor das informações, quase nunca trocando de papel, vindo a se tornar interlocutor ou receptor das informações.

Quando falo isso, me refiro ao fato de, na maioria na vezes, perceber nas pessoas o desejo de quererem ser somente ouvidas e terem muitas dificuldades em ouvir o outro. Talvez isso seja consequência do capitalismo que prega o individualismo, a desigualdade e um amor-próprio sufocante. Com isso, a troca, se torna limitada e desequilibrada.

Notei que, desde sempre, tentei ajustar essas configurações, na medida em que tentava estimular a troca de papeis; ambos os participantes, podendo variar, em momentos específicos, no papel de locutor-interlocutor, emissor-receptor, para que com isso, o processo comunicacional serva para que ambos se signifiquem no ato conversacional.

Na performance, eu tento a todo momento me colocar numa posição aberta para receber o sujeito tal como ele é, sem pré-julgamentos definitivos, nem opiniões fechadas.

Mas não posso deixar de falar que por perceber as dificuldades, citadas a cima, que existem nos processo conversacional, durante a performance, tento na maioria das vezes, me colocar também como locutor e estimular o outro a desenvolver a escuta.

Isso é importante na medida em que nos constituímos a partir de contrastes de identidade. Se o outro, diferente de mim, fala de si e eu percebo sua fala, posso me entender na diferenciação do que ele é, e do que eu sou, assim, eu posso me entender mais.

Nos primeiros anos da performance, eu utilizava uma placa/chama com o enunciado: “O que você está sentindo?”. Essa pergunta delimitava que somente o outro, o coautor (público), falasse de si mesmo. Depois, mudei o enunciado para “Vamos conversar sobre sentimentos”. Agora, eu criava a possibilidade de falar também o que eu estava sentindo. O “Vamos” do enunciado, colocava em questão o que ambos estavam sentido. Apesar desta minha leitura analítica do enunciado, a grande maioria das pessoas, não se atentavam para isso, insistiam em se colocar na posição de só quererem falar de si mesmas, não dando espaço para ouvir o que eu tinha para falar sobre meus sentimentos e emoções.

Tendo como conceito norteador a estética relacional, que resumidamente, fala sobre trazer as pessoas para fazer junto a obra artística – deste modo, a obra ganhando significado de processo, penso que para que haja essa interação entre autor (artista) e coautor (público), a relação deve ser estimulada para que seja equivalente, justa, equilibrada, isto é, quando a obra (processo) se propõe ao que eu proponho com minha performance.

Tenho conseguido êxito em também me colocar no processo comunicacional, deixando de ser apenas um “ouvido passivo”, e me tornando uma voz ativa, sempre estimulando a variação destes papeis. Ouço para que seja ouvido. Ouço para entender o outro e a mim mesmo. Falo para poder expressar quem sou e sentido a recepção do que falo, por parte daquele que me escuta, eu, de certo modo, me significo.

A recepção da obra, por parte dos coautores (público), é a mais diversa possível. Muitos vem atraídos pela curiosidade para saber do que se trata e sentam no banco com a finalidade de obter respostas preliminares. Uma parte não é logo seduzida pelo enunciado: “Vamos conversar sobre sentimentos”, já que, falar de si mesmo é uma ação que traz prazer narcisista.

Estamos falado de uma Performance permeada pela estática relacional, que produz espaços de interação verbal. O que se precisa para a efetivação da ação são os materiais verbalizados, tanto do autor quanto dos coautores.

A Performance que executo não é terapia. Não existe a relação hierárquica: terapeuta – que detém um determinado saber, e um paciente – que vai passar por esse saber para obtenção de algum tipo de cura. O autor, tenta, na verdade, se colocar numa posição equivalente ao coautor. Eu desejo me afetar com o que o outro tem a dizer, do mesmo modo que tento me afetar com o que fale de mim mesmo.

Entretanto, a performance, querendo ou não, flerta com a terapia. Sinto isso, principalmente, após diversos relatos de pessoas que participaram e disseram que se sentiram bem durante e após as conversas; que puderam investigar áreas esquecidas de suas vidas; que colocaram para fora, cargas de sentimentos e sensações negativas sobre determinado tema; que conseguiram compreender determinadas situações que estavam nebulosas, etc.

a execução da performance, cria a possibilidade de falar de si mesmo. Revisitar seu universo particular e revisitando, existe a perspectiva de alterar ou não esse material. Eu não estimulo essa mudança, tento no máximo, tencionar reflexões. Não dou conselhos. Não faço indicações. Não faço interpretações analíticas de profundidade técnica. Não receito remédio. Não é esse o objetivo da ação e nem poderia ser, já que eu não sou um psicólogo.

Quando sou confrontado a “exercer” este papel de terapeuta, deixo claro que não sou um. Que sou um artista. Que o que pretendo é simplesmente conversar. Quando existe insistência nisso, eu parto para uma metodologia de perguntas: quando o outro deseja falar sobre alguma situação complicada que está vivendo – e isso acontece diversas vezes, e em seguida, deseja que eu dê algum conselho ou faça alguma interpretação, em vez de dar respostas, eu simplesmente faço perguntas sobre sua questão para que ele mesmo possa tentar encontrar as respostas em possíveis reflexões. Se não obtemos êxito, tento conduzir a conversa para outros lugares mas, sempre lembrando que a intenção da performance não é curar ninguém e também não é espaço de terapia (por mais que flete com isso).

Ainda sobre o método de perguntas, existe as perguntas “abertas” e “fechadas”. Quando me refiro a “aberta”, isso significa várias palavras para a resposta; enquanto “fechada”, são aquelas perguntas que podem ser respondidas com poucas palavras. Perguntas fechadas muitas vezes se limitam a sim e não. Perguntas abertas, geram espaços, criam a possibilidade do outro se investigar, trazer à tona, material de si mesmo e para que haja conversa, é preciso um mínimo de material.

Listei, no decorrer da elaboração desta performance, alguns características intrínsecas ao seu fazer:


1- Capacidade para analisar sentimentos.

2- Capacidade de me aproximar de estranhos e participar de uma variedade de bate-papos.

3- Capacidade para deixar as pessoas a vontade.

4- Capacidade para estimular a participação das pessoas.

5- Capacidade de observar uma situação e escolher ou não se envolver com ela.

6- Capacidade de não aprofundar-se em problemas que os participantes não possam manejar.

7- Curiosidade sobre as pessoas.

8- Capacidade de encontrar satisfação em falar e ouvir.

9- Não ter uma visão marcadamente moralista do mundo.

Acompanhar pessoa que vão para várias direções, no processo comunicacional e outras que são mais objetivas e direcionadas

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