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Festival Imaginários Urbanos: Uma saída criativa para o isolamento social.

Neste período de quarentena, no Brasil iniciada no dia 07 de fevereiro de 2020, muitas discussões sobre como ficariam as relações humanas vieram à tona. Devido a situação da pandemia mundial do Covid-19, tivemos que nos reinventar e nos perceber dentro das possibilidades que o mundo virtual nós oferece.

Então veio oportunidade de fazer parte da segunda edição do Festival Imaginários urbanos que trabalha com performance. Foi um evento importante para se perceber e refletir sobre essas novas relações. O Festival também se reinventou dentro do novo contexto que vivemos. Talvez o maior desafio encabeçado pelos organizadores do festival fosse: como realizar um festival que trabalha com performances de rua dentro do instaurado isolamento social?

Já haviam indícios de como ficariam as relações neste atual período; todas as instituições estavam utilizando, mas do que nunca, as redes sociais, as plataformas digitais, as tecnologias de comunicação a distância para estabelecer novas formas de relação.

Nós já fazíamos uso dessas tecnologias para nos comunicar, mas agora essa forma foi colocada em primeiro plano. Fomos entendendo que o isolamento não precisava significar solidão.

Para o segundo Festival Imaginários Urbanos, que ocorreria entre os dias 10 a 20 de abril de 2020, propus acionar a performance que executo desde 2017 que se chama: Sentar e Sentir: Microuniverso de Afetos. Do seu início até agora, ela passou por muitas transformações decorrentes das necessidades impostas pelo momento ou pela própria mudança natural – se a ação performática pode ser entendida como uma extensão daquele que executa, é normal e até esperado, que a mudança aconteça.

Deste modo, me vieram algumas questões: como executar uma performance que funciona tendo como princípio fundamental, o contato presencial entre performer e participantes? Como transportar uma ação que funciona na rua para dentro de casa? Estamos todas e todos em isolamento social, como criar pontes para chegar às outras pessoas? Minha ação performática só tem sentido se o outro estiver comigo, junto, elaborando, vivendo e se afetando. Como fazer isso agora?

Antes do isolamento social, a performance funcionava da seguinte forma: eu ia para o espaço público com dois bancos, um tripé e um placa/chamada com algum anunciado, o mais recorrente era o: “vamos conversar sobre sentimentos”. Então eu aguardava que as pessoas que andavam pelo espaço público, vissem a placa e viessem conversar comigo sobre sentimentos.

Depois de alguns dias após o começo da quaretena, onde o isolamento social começou a pesar como norma, tive que readaptar a performance. Peguei um segundo triple para colocar uma câmera, dois bancos e duas placas, uma com o tema/convite e o outro com o número do meu telefone para as pessoas pudesse vem minha ação.

Tudo estava sendo filmando em Lives do Instagram com a duração de 60 minutos. Também, a ação ganhou uma nova palavra: “virtual”, passando a se chamar: “Sentar e Sentir: MicroUniverso de Afetos Virtuais.

Antes do festival, executei esta ação de forma independe algumas vezes. Tive a oportunidade de conversar com diversos Fortalezenses e saber como eles estavam se sentido com tudo que estava acontecendo neste conturbado período em que estamos vivendo.

No Imaginários Urbanos, utilizando o perfil do Instagram do festival, o público ficou mais diversos pois, além dos Fortalezenses, pude conversar com pessoas de outros estados e munícipios que traziam traços particulares de cada localidade.

Foi muito interessante e importante fazer parte desta multiplicidade pois, dentro dela, além de combater o estado de solidão – gerado pelo isolamento social, pude me entender mais e entender um pouco sobre o que os outros estavam vivendo e esperando da pós-pandemia, inclusive, esse foi um tema recorrente.

Outra situação curiosa, neste novo formato de performance, transporto para plataformas digitais, foi poder conversar com várias pessoas ao mesmo tempo. Isso se diferenciou da performance executada no espaço urbano já que só posso atender as pessoas uma por vez.

Na live, deixando meu número para contato, recebi várias mensagens ao mesmo tempo de pessoas diferentes e tive que me fragmentar para poder dar atenção e qualidade as conversas. Foi difícil mas foi gratificante. Essa fragmentação me enriqueceu bastante. Passear por diversos assuntos, se percebendo e percebendo o interlocutor, me trouxe autoconhecimento que tem me ajudado bastante a lidar com a quaretena.

Achei muito importante toda discussão gerada pelo festival. Todos os temas levantados se mostraram relevantes para a atual situação que estamos vivendo. Direções foram apontadas. Em conversa com Tânia Alice [1] ela nos sugeriu que o maior performer de todos, neste momento, é o próprio Corona Vírus, que conseguiu fazer uma paralização Global – afinal, um dos desejos da performance não seria paralisar?

Por outro lado, performance não é só paralisar, é também propor novos movimentos. Se o Corona foi o performer da paralização, o festival Imaginário Urbanos então surgiu como o performer do movimento e da reflexão, adaptado a nova realidade, agiu como um guia ou um mediador desse outro performer (o corona) que tem como consequência o isolamento social que tanto nos atingiu.

Ter proposto conversas, debates e a execução das próprias performances em lives, dentro de um fazer e pensar coletivo, o festival conseguiu criar antídotos e espaços para viabilizar as inquietações dos artistas que, com certeza, estavam querendo produzir, “botar para fora”, se expressar como estavam se sentido ou o que estavam pensando, enfim, produzir movimento (Festival) dentro da inercia(Quaretena).

Foi um prazer fazer parte deste festival, no conturbado período de quaretena. Vida longa ao festival Imaginários Urbanos, que possam existir novas realizações, sempre se renovando e se reinventado, afinal, o que se espera de um festival de Performance se não isso: a renovação?

[1] Tania Alice (1976, France) é performer. Foi diretora artística do coletivo de Performance “Heróis do Cotidiano” (Rio de Janeiro, Brasil) de 2009 – 2014, Coletivo que se reverteu na criação do Coletivo Performers sem Fronteiras, que atua em situações de trauma e conflito com projetos artísticos participativos. Ela trabalha na interface entre Artes Visuais e Artes Cênicas, investigando o conceito de Estética Relacional de uma forma crítica, trabalhando nas ruas e em espaços domésticos com artistas e “não artistas”.

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